6.2.14

o mundo era mais feliz sem ecrãs


demasiadas vezes dou por mim triste deitada nesta cama, que nem minha é. dou por mim triste em vez de feliz por aqui estar. a minha presença parece inútil e irrelevante e sinto-me só sozinha, entre as tuas paredes. parecendo que não dói menos ser sozinha perto das minhas paredes, onde já é habitual a sensação. já é  confortável a solidão.
A solidão na tua presença é sentir-te ou -nos a ser sugados pelos pixels, para dentro dos ecrãs que só nos enchem de merda. merda liquida. diarreia de existência. O mundo era mais feliz sem ecrãs.

5.1.14

nunca achei que fosse possível olhar para alguém e pensar 'sim, esta é a minha pessoa. a pessoa com quem eu quero viver a minha vida' nunca achei que pudesse ser possível alguém de facto sentir isso fora da tela de cinema. era uma mera ilusão literária, uma âncora para o mundo.
e agora dou por mim numa cidade a 1800km de casa, num país onde eu não consigo entender uma única palavra (na casa de um dj sonâmbulo, envelhecido e cansado) a olhar para um homem deitado ao meu lado que eu vejo claramente ser a pessoa da minha vida. aquela que mais me magoará e simultaneamente a que mais me fará sorrir.
será relevante dizer que o conheço há seis meses? e que também o amo há seis meses? ou talvez seja relevante referir que ele tem mais de 20 anos a mais que eu? existem coisas relevantes a dizer sequer?
existe uma que ultimamente não consigo esquecer... tudo isto vai provavelmente acabar aqui, nos (ir) relevantes seis meses.

25.11.13

voltei a mim e voltei aqui.
não só voltei a mim como creio ter-me tornado em mais do que alguma vez fui. ele tornou-me em mim, encorajou-me (ainda que sem notar) o sorriso e a plenitude.

de repente somos tudo o que o mundo deseja. somos o que toda a gente quer ser e tem medo. somos o que ninguém considera possível.

6.11.13

voltar. voltar aqui, mas sobretudo voltar a mim.
 o mundo não pára e eu não sei onde estou.

3.10.13

sei que não posso deixar que me faças isto, não me posso permitir permitir-te isto.
mas todos os dias baixo os olhos quando te irritas. todos os dias me fecho em mim quando me rejeitas.

27.9.13

um dia vou voltar a escrever. um dia vou voltar a pensar.
agora não farei senão apenas continuar a perder-me no teu cheiro a gás, na confusão de não saber se este é o meu corpo ou o teu.

29.8.13

a vida muda e eu volto.
preciso de escrever, de nos escrever. talvez escrevendo o que vejo à tua volta descubra o que é isto que vivemos, o que é isto que me faz gostar de ti e querer-te todos os dias e ainda assim temer-te tanto. não digo temer a tua pessoa, mas temer as tuas vontades, a tua inconstância.

9.8.13

preciso de dormir. preciso de dormir. preciso de dormir. estou farta de te ouvir.

o corpo volta a aquecer e a febre chega. já te posso dizer que preciso de ir dormir.

20.7.13

o medo acabou. acabou em nós, porque nós deixámos de existir. acabou nas manhãs de lã e na pele movediça.
agora, quem poderia trazer-me tamanha luz, não poderá ser mais que um beijo agridoce.
não saberei perder a consciência da tua tristeza e do teu coração desfeito. não saberei afastar-me o suficiente para desconhecer a tua nova capa de gelo. não saberei libertar-me da culpa.

isto deveria chamar-se, de agora em diante,

da culpa de ser inteiro